quinta-feira, 31 de março de 2011

Aposentadoria: período de novas escolhas e possibilidades

Durante toda a vida muitas pessoas dedicam-se à realização profissional, preparam-se para uma carreira, para o caminho dentro da profissão e desejam alcançar sua realização profissional, ao atingirem o status pretendido.

Muitas vezes, todo esse reconhecimento leva tempo, investimento emocional e financeiro. E, quando todo este status é alcançado, quando o profissional sente que chegou ao cargo sonhado, já está próximo de sua aposentadoria.

Os problemas psicológicos da aposentadoria acontecem quando a pessoa sente esse momento como um momento de PERDA: perda da “rotina” que conhecia e que lhe dava certa segurança, perda da utilidade social e perda da referência de “ser profissional”, isto é, uma perda da própria identidade profissional.

A aposentadoria é um período de reestruturação de atividades e valores. É neste período de transformações que a família e amigos têm suas importâncias aumentadas. A pessoa é “convidada” a retomar sua vida em família, passa a ocorrer maior convivência entre marido e mulher, com os filhos, amigos, enfim... o que chamam de “descansar e curtir a vida”.

O momento de aposentadoria pode ser usado para refletir sobre os rumos e escolhas que foram feitos durante a vida e para o planejamento e a realização de novos desafios e sonhos. Mas, muitas pessoas sentem tristeza, angústia e podem, inclusive, entrar em quadros de depressão. Essas complicações decorrem da impossibilidade de fazer um necessário luto pelos aspectos que foram perdidos e deixados para traz e, ainda, pelo fato de  não conseguirem aproveitar e “curtir” as conquistas que foram realizadas na vida profissional.

Preparando-se para a aposentadoria, nos últimos anos de trabalho antes dela e, evidentemente, no período imediato pós aposentadoria, pode ser bastante importante que o sujeito busque apoio psicológico. É a busca por um espaço de acolhimento e reflexão sobre as preocupações e angústias, para buscar novos desafios e novos sentidos para a vida futura, de forma a descobrir novas fontes de motivação e prazer, fora do ambiente profissional que tomou tanto tempo e espaço durante grande parte da vida. 

Equipe NETPSI

sexta-feira, 4 de março de 2011

Cuidando do Bebê ... Cuidando da Família

Formar uma família tornar-se pai ou mãe, é um desejo acalentado por muitos casais. Algumas vezes esse anseio precisa ser adiado em função de inúmeras questões, seja devido ao fato da mulher ou do casal ter como objetivo primeiro desenvolver-se profissionalmente, buscarem assegurar alguns bens tais como casa, carro entre outros, ou investir em um curso ou uma especialização que vá auxiliá-los a ter melhores oportunidades de trabalho, para posteriormente pensar em ter um filho.
Em outras situações o casal sente que chegou a hora, que é um bom momento de pensarem em engravidar, mas na realidade a gravidez tão esperada não parece chegar, e há ainda casos em que os bebês simplesmente chegam sem ao menos avisarem ou pedirem licença!
O que parece ser algo comum nesses exemplos citados é quando por fim, a mulher engravida, seja por que o bebê vem sem nenhuma dificuldade exacerbada, após a decisão do casal em engravidar ou quando, a mulher descobre-se grávida sem percepção consciente de que desejava um filho, e também nos casos onde o casal almeja muito por um filho, mas precisa recorrer a técnicas de reprodução medicamente assistida.
Sabemos que cada história da vinda de um bebê em uma família é única e distinta. No entanto, há algo que podemos dizer que é habitual para as mulheres que engravidam e têm um filho, mesmo naquelas que desejaram ardentemente um bebê, certa crise iniciada com a chegada do bebê.
Essa crise se deve ao fato de os pais precisarem deslocar-se do lugar de filhos para tornarem-se pais. Este processo apesar de ser visto como algo natural implica em uma mudança do ponto de vista psíquico, cuja tarefa não fácil, envolve um significativo remanejamento de posições subjetivas para ambos os pais. Deixar de ser unicamente filha para ser mãe de sua própria cria, exige da mulher um intenso trabalho psíquico, envolvendo uma renúncia desse lugar vivido desde sua infância.
Soma-se a isso que uma gestação sempre vem permeada por uma mistura de sentimentos, ao mesmo tempo em que, um bebê pode ser desejado, pode aparecer um pensamento contrário a esse, e os dois conviverem na mesma pessoa. Essa ambivalência não é característica específica do processo de gestar um ser vivo, ela é peculiar a todas as relações humanas, apesar de que socialmente somos educados para gostar de alguém e não nos é normalmente avisado, muito menos tolerado, que possamos vir a sentir algo diferente da mesma pessoa que amamos.
Em muitas oportunidades, ao mesmo tempo em que o casal quer ter um bebê, pode sentir dúvidas de como será cuidar e educar uma criança, o que acontecerá com a vida de casal que tinham antes, as mulheres por sua vez, pode pensar se terão meios de se dividirem entre o trabalho e a maternidade e como realizarem essa divisão a contento. Esses exemplos podem ser somados a muitos outros e fazerem com que tanto a mulher quanto o homem se encontrem numa mescla de sensações e sentimentos, isso é comum acontecer.
Esse período é extremamente sensível para todos os envolvidos. Sabemos agora, que em todos os partos, além de “ganharem o bebê”, há um processo de perda do “bebê sonhado” para o encontro do “bebê real”, abrir mão do bebê imaginado é normalmente, bastante complexo e envolve certa dose de depressão para grande parte das mulheres. A tristeza vinda com o nascimento de um filho não é muito discutida na nossa sociedade, muito menos acolhida, o que acarreta, na grande parte das vezes, um sentimento da mulher de inadequação: Como pode não estar sentindo-se plena e afortunada com a chegada de seu bebê? Muitas vezes, a mãe fica sozinha com esse sentimento, não pede ajuda e sente-se confusa e desamparada. Podendo até ocorrer um afastamento do pai, por não compreender o que está acontecendo com sua companheira.
Essa tristeza pode durar alguns dias e passar, não acarretando danos maiores para o bebê e para a relação com sua mãe. No entanto, pode haver não só uma permanência desse estado, como também, um agravamento, o que pode implicar em alguns descompassos dessa “dança” da mãe com seu bebê.
Tanto a tristeza mais passageira, como um quadro de depressão, não são “defeitos” e nem “fraquezas” da mulher que acaba de ter um filho, são muitas vezes inerentes a esse processo de tornar-se mãe, muitas vezes podem não ocorrer no nascimento do primeiro filho, e sim no nascimento de outro filho, mas sem dúvida precisa ser cuidado, pois é gerador de grande sofrimento para a mulher e para a família como um todo, e não deve passar despercebido.

Cristiane Geraldo Folino Psicóloga e Psicanalista. Membro do Departamento de Formação em Psicanálise do Instituto Sedes Sapientae. Formada pelo Instituto Sedes Sapientae no curso de Introdução à Intervenção Precoce nas Relações Pais-Bebê. Mestre e Doutoranda pelo Instituto de Psicologia da USP.